Meu nome é Thiago Vidotto e, aparentemente, eu tenho o olfato um pouco diferente.

Nasci em Arapongas, no Paraná, em uma casa simples, de madeira, com um jardim exuberante e não muito bem cuidado.

Nesse jardim, havia um limoeiro. Esse limoeiro começou tudo.

O perfume de suas flores é avassalador. Ele parece atravessar cada membrana do meu corpo, quase como aquelas cenas de filmes em que o tempo congela quando o protagonista compreende algo superior sobre a vida. 

Aos 5 anos, ganhei o meu primeiro perfume, um Contém 1g, sobre o qual tenho poucas lembranças detalhadas. 

A partir daí, minha vida se desenvolveu uma forma curiosa.

Cheiros começaram a se tornar âncoras na minha alma e memória, de modo que eu consigo me lembrar melhor de situações por conta dos perfumes que eu sentia, bons ou ruins (isso provavelmente também acontece com você, em alguma intensidade).

Certa vez, fiquei 3 anos sem me aproximar de um sofá que meus pais tinham comprado, porque... (já aviso, não é coisa boa). Enfim. Porque, na volta da compra desse sofá, atropelamos um bicho na estrada.

Isso foi tão horrível pra mim, que sentir o cheiro do sofá era uma ofensa para a vida.

Eu sei, é curioso. Traumas têm cheiros. Momentos sublimes também.

E, a partir dessas percepções, eu ruminei a ideia de criar meus próprios aromas por tantos anos. Aos 23 anos, comecei a criar fragrâncias para casa com óleos que eu mesmo extraía. Confesso que eles não eram bons, infelizmente.

Aos 26 anos, tudo começou a mudar. Algo lindo aconteceu. Vou te contar.

Em 2017, minha mãe me levou a uma loja de óleos essenciais. Ela comprou, para mim, óleos de patchouli, vetiver, tangerina, bergamota, limão e capim cidreira.

Cheguei em casa e fui testá-los.

As janelas estavam fechadas. Era um dia quente em Arapongas e, por alguma razão, eu fechei todas as janelas, de modo que apenas uma luz amarela esfumaçada atravessava os tecidos densos das cortinas.

No centro da cozinha, sentado em uma cadeira, eu abri o óleo de vetiver e pinguei uma gota dele em um papel.

Nesse instante, eu me vi sentado de longe na mesa. Como se alguém tivesse aumentado o contraste da minha vida ao máximo, eu me tornei alguém diferente. Como podia ser tão belo? Fumaça? Raízes? Doces? Lindo, e de encher os olhos de água.

Essa pintura vive em mim como o passo número 1 da minha jornada com fragrâncias. 

Voltando para minha casa, em Ribeirão Preto, criei meu primeiro perfume. Um vetiver com notas de açafrão que eu mesmo extraí. Eu queria eternizar a sensação de sentir o aroma do vetiver pela primeira vez.

Também consegui trazer outras sensações com ele: os aromas que eu sentia ao caminhar em regiões de matas secas e queimadas do interior de São Paulo. Eu sei, não é bonito, mas a fumaça é intrigante pra mim.

Em 2024, comprei meus primeiros materiais para criar perfumes de forma profissional.

Eu criei todas as fórmulas da STONEBORN de forma autodidata. Foi até estranho.

As coisas simplesmente fizeram sentido na minha cabeça e em um dia eu já tinha desenvolvido perfumes que guardo e uso até hoje.

Bom, fragrâncias nos tornam o que somos, e isso é muito óbvio para mim.

Como é para você?

 

Thiago Vidotto.